8 de setembro de 2009

Pintando a cara de preto

Postado por Agnaldo Vergara
Texto publicado na Internet em dezembro de 2003


Sou uma pessoa importante, pô! Recebo, em casa, via computador, o Boletim do PT!!! E chegou-me a seguinte notícia:
“O Secretário Nacional de Combate ao Racismo, M. das Chagas, avaliou seu “périplo”...
Péra aí!!
Périplo??!! Palavra bonita! Eu acho que é a primeira vez que eles a usam, porque ela vem entre aspas. Deve ser uma palavrinha importante. Aí fui consultar o chamado, indignamente, de “pai dos burros”... burra é a tua vó, viu, que se eu fosse burra, nem dicionário consultaria...!
Bem, a tal de palavra vem do grego (extrachique!) e significa viagem de circunavegação, em volta de um mar, de um país... (será que o Lula tem a intenção de... viajar... como o FHC?)
Continuemos: então, esse secretário de combate ao racismo afirma que: O “périplo” por cerca de dez ministérios (aí eu respiro, aliviada!) acabou revelando que o Programa Fome Zero será a medida de governo de maior impacto para a população negra, neste primeiro ano de governo. Foi explicado que, em cada dez pessoas a serem atendidas pelo programa... oito são negros.
E termina o tal de M. das Chagas:
“Este é um dado que consideramos emblemático (e não é que estão usando palavras difíceis?) da situação da população negra no País. É importante, temos agora um governo que desnude e detecte isso”.
Pombas!!
É por esse motivo que estou pintando a cara de preto, pô! O Alkimin não sabe que aposentados precisam de mais dinheiro que os não aposentados... mas, como tudo neste santo país e feito para aumentar a riqueza dos que já são ricos, mas, em compensação, aumentar também a pobreza dos que já são pobres... eles devem chamar isso de “igualdade de direitos”e... como sou branquinha... acho por boa medida pintar minha cara de preto.
Além de branquinha, sexagenária de longa data... e tudo sob protesto!
Devo trazer a público, meus lídimos sentimentos de rebeldia!
Professora aposentada... ganho... bem não vamos falar do que recebo; vamos falar daquilo que me falta.
Falta-me um lugar aonde possa morar e dormir em paz... mesmo quando chove!
Agora, é só São Pedro ficar de mal com São Carlos Borromeu... que tudo borra o nosso!! Quando chove, acordada por horas e horas, fico aguardando a invasão das águas na minha cabana!!
E elas chegam... sempre sem cerimônia e, na volta, carregam tudo... meu tênis do pé direito, minha sandália nova do pé esquerdo, até o tubo de “korega”... sem falar das peças íntimas...
Foi por esse motivo, que o assunto dos negros me interessou assaz (outra palavrinha muito linda!).
Quero criar, em São Carlos, Capital da tecnologia, uma favela para brancos velhos e desamparados...
Vamos criar um lugar alto, à nossa altura... onde possamos nos deliciar com o aconchegante barulho da chuva e... ler, à luz amena de um abajour, Balsac... em sua meritória obra, contrapondo Dante na Divina Comédia, com sua “Comédia Humana”... ou... mais apropriado seria ler, de Victor Hugo, “Os Miseráveis”. Antes de reler tudo isso, gostaria de ter... um lugar... enxuto!! Sem enchentes.
Aí você diria: o Lula tem que atender às prioridades!... o Prefeito também!
E eu replicaria: “Prioridade merece quem trabalhou, honestamente, a vida inteira, e não pode esperar muito, porque tem pouco tempo de vida!!” É coisa rápida!
Gostaria de, ao sair, pudesse levar, deste País, uma recordação efetiva, sem ter que pintar a cara de preto. Bom, aí lembrei-me que deveria ligar ao Dr Rúbens, esposo da amiga Angélica.
Eles fazem um casal maravilhoso, sempre bem humorado. Toda segunda-feira, por volta da 19h50min, apanham-me e vamos ao “Campo do Rui”. Ali se reúne um grupo amante da música clássica e sacra, e, sempre louvando o Dom Fulgêncio, canta o Coral Santa Cecília, sob a regência da enérgica e inteligente amiga Célia Aparecido Luiz.
Bem , eu ligo lá porque sei que o Dr. Rubens, está contundido, por um pequeno acidente de moto.
Conversamos bastante e... ela, a Angélica, finaliza, fazendo-me cortez convite, porque sabe das enchentes aqui na minha cabana, no Kartódromo:
“Apareça, Daidy!!... Tome o barco das seis, das sete ou das oito horas!
(Desgramada!)
Agora só me fica uma dúvida:
O que é que devo fazer com o nosso Presidente... com o meu Prefeito, com as minhas enchentes e com o bom-humor dos meus amigos?
SORRIR!!! E... perguntar: QUANDO É QUE A GALERIA DA FERROVIÁRIA VAI SER AUMENTADA, para dar vazão às águas? Quando é que esses tubinhos cobertos por terra e asfalto – a que deram o nome de “ponte”, aqui no Kartódromo, serão dinamitados para ali se fazer ponte de verdade?
Ô... meu querido sr. Prefeito, se acaso faltar verba específica para dinamite, eu posso, como cidadã oferecer, tanto o material quanto a mão de obra! Enquanto estamos em seca.
Na inauguração da nova ponte, sugiro que o Prefeito mande a “orquestra sinfônica” – que pretende fazer e, caríssima, por sinal – interpretar a peça que estou escrevendo: no primeiro ato: “Como cobrir a caca com creme”! No segundo ato: “Como acariciar a elite intelectual e mandar os pobres às favas”.

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