2 de outubro de 2009

Alguém tem que ter Juízo!

Postado por Agnaldo Vergara
Texto escrito em maio de 2005


Estou expressando minha alegria pela medida da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo
Finalmente, alguém está tomando conta da alimentação de seu filho. Ou filha. Ou filhos.
Eu não entendi, ainda, porque a grande mídia não explorou, exaustivamente, esse fato.

ISSO É DE GRANDE IMPORTÂNCIA, MINHA GENTE!

Pensa comigo. A criança, coitada, ela cresce o dia inteiro e a noite inteira! com uma vontade enorme de ser como nós, os bobos adultos. Alguns são espertos. Então, a criança tem fome! o tempo todo! Só que... ela não entende nada de nutricionismo.
É, sim, vítima de uma família atarefada. A mãe sai cedo, o pai sai cedo. Quando há empregada, ela chega tarde!
Não há mais o café da manhã, em família, mesmo que seja café com leite, pão e manteiga (hoje substituída pela insípida margarina. URRR!).
A escola é a salvação! Graças a Deus... mesmo que a escola não ensine muito, em compensação, alimenta mal.
Até agora. Nas estaduais pelo menos.
Então fica combinado. As crianças comem na escola.
As cantinas comemoram.
Sabe, nos meus velhos tempos, na escola havia um excelente diretor, ótimos professores, servente que apontava o lápis e... nenhuma cantina. Cada um trazia o lanche de casa, preparado pela mamãezinha.
Eu adorava o sanduíche de pão feito em casa, com banana nanica no meio!
E nem sabia que banana tem potássio!
Mas eram tempos antigos... atrasados! Nem a benéfica coca-cola havia! Era só tubaína e, aos domingos.
A sobremesa era fruta mesmo e do quintal! Quintal grande. Ah! Que saudade do quintal da minha infância, na casa do meu vô José Gazzetta. Havia pinha, que, antigamente, se chamava fruta-do-conde; havia jabuticaba e uva, muita uva. Uma parreira imensa. Brancas e pretas. Lembro-me, com muita saudade, do ritual da uva, na casa do meu avô. Só dava uma safra, em dezembro. E, quando começava a madurecer, meu querido leitor, cheirava tão bom... tão doce... tão convidativo, que eu andava sob a parreira, ia e vinha... esperando um cochilo do meu avô, que lia jornais no terraço de traz, para beliscar aquela dadivosa “grapulla”!
Nunca consegui! Meu avô me vigiava, torcendo os bigodes brancos. E como eu respeitava aqueles bigodes brancos!
Então, na véspera do natal, todo mundo ia à Missa do galo.
Naquele tempo era obrigatório, sabia?!
E funcionava assim: um monte de tios e de tias, eu, meu irmão e minha santa mãe. Um enorme banheiro. Um único, diferente das casas de hoje, com quatro ou cinco, na maior parte do tempo... bagunçados!
Então, o banho tinha quer ser rápido. Cantar no banheiro podia. Meu avô gostava de ouvir um trecho do Giuseppe Verdi, que o americano, de mau gosto... chama de Joe Green! Faça-me o favor!
E, cada um quando saia do banho, passava o rodo, secava e recolhia suas peças íntimas! O banheiro ficava em ordem, como foi encontrado. Isso é respeito e disciplina, coisa a que, hoje não se liga muito!...
Todo mundo tomado banho, ia-se à Missa do Galo e... só depois, meu cerimonioso avô pegava uma enorme bandeja de prata, uma tesoura e colhia as uvas brancas e pretas, que ele, havia muitos anos, plantara e que o tio Cajetano (Caetano) vinha podar, tecnicamente.
Era a ceia de Natal, muito significativa, fui aprendendo. Porque o italiano veio substituir o escravo negro, mas não se esqueceu da tradição da saudosa pátria Itália, nem de Baco, deus do vinho e da fertilidade.
A gente nem sabia que a uva tem enzima de nome complicado, que elimina radicais livre, aqueles que ajudam você a envelhecer.
Com todo esse falar, digo, escrever, suponho mostrar dois tempos. O antigo, onde a barba branca do vô era respeitada e o moderno, em que não existe mais café da manhã em família – mesmo que fosse café com leite, pão-manteiga, hoje a insípida margarina.
Ninguém tem mais tempo para alguns fatos importantes... como a alimentação boa para a criança que come na escola.
Alguém tem juízo, ainda!!
Esta lei proíbe salgadinhos fritos e os substitui pelos assados; troca os refrigerantes... por sucos de frutas!
Ótimo! Sei que donos de cantina andam reclamando. O comércio, deve, também, além da sanha de ganhar dinheiro, usar de uma certa ética: vender o que faz bem, vender o que não promove a obesidade.
Uma vez eu fiz uma viagem, de Campinas a Santos, justo ao lado de um obeso.
Tragédia! O cujo parecia tão cansado em transportar aquele peso todo, que, nem bem sentado, roncou, bufou, babou, esparramou as sobras dos seus culotes... pela minha poltrona!!
Por justiça, achei que deveria pagar menos pela passagem... mas, você já conhece a justiça desse país, não?
Bem, nesta viagem, eu estava à janela, disposta a olhar a paisagem, talvez inspirar-me para uma poesia. A natureza é sempre linda.
Só que, a única inspiração que tive... foi imaginar aquele obeso na cama. Boca aberta, babosa, roncosa, nada lindo! E... a barriga, grande, possante, relaxada por completo... a invadir, anti-democraticamente, a CAMA TODA!!
Socorro! Polícia!!
Manhêêêê!!!!!
Alguém, felizmente, neste país, tem juízo!

Um comentário:

Ivoninha disse...

Oi Daidy: Na minha infância não havia essa profusão de salgadinhos, refrigerantes e congêneres... Coca Cola família continha apaena s um litro e só podia ser degustada aos fins de semana... Minha maravilhosa mãe proibia-me de alimentar me com estes tenebrosos salgadinhos, pois me faziam muito mal... Não havia lugar para gulodices... Bolos eram os preparados em casa... Eu mesma executava a receita do pão de ló de laranja de minha avó (Sãocarlense) Maru desde os sete anos de idade... Sobremesa fruta, sempre!!! ´Doce, muito de vez em quando... E enquanto meu pai não chegava à mesa ninguém almoçava... Bons tempos, Daidy... Saudades... Parabéns pela crônica que mais uma vez funcionou como uma cápsula do tempo... Bjs Ivone