19 de outubro de 2009

Koisas do... alem!...?

Texto publicado em fevereiro de 2004

Foi exatamente a 22 de outubro último que recebi uma singular ligação:
– Gostaria de falar com a cronista Daidy. Ela está?
– Em pessoa! Aqui nada é virtual, a não ser minha imensa vontade em ganhar um milhão, no show do milhão. Mas... com quem tenho o prazer de falar?
– É o Sérgio. Leio todas as suas crônicas e gostaria que fizesse uma apreciação sobre os meus escritos...
– EU?! É lisonjeiro, mas não tenho competência para ser crítica literária!
– Mas... é crítica!!
– Bem... depende do ponto de vista!
– Não! A vista, a ótica do ponto é que depende do autor.
– Sr. Sérgio, assim sua pessoa deixa ainda mais confusa a mim, que já pessoa confusa sou...
Bem, na tarde daquele mesmo dia, recebo um belo livro “Atualidade ante o terceiro milênio”, de Sérgio Meibach, editado em setembro de 2003.
É ele, o que me telefonou!! A autografia, inusitada, é um prático (?) carimbo, mensageiro: “Que o meigo Nazareno, nosso amigo incondicional, ajude-nos na presente romagem, soerguer-nos das ruínas morais do nosso pretérito denegrido.”
Sincera, não gostei do último pedaço “soerguer-nos das ruínas morais do nosso pretérito denegrido”... e já pressentindo uma dura crise de consciência, porque ignoro minhas denegridas passadas vidas (o padre Guevedo sustenta que essas koisas não eqsistem), resolvi brincar um pouco, a disfarçar, limitando os passados todos ao... passado presente.
Será que me esqueci de pagar alguma conta? A Seller, atrasada, paguei; os Okino receberam meu cheque; Arco íris também; pelo cartão pago o ab swing. Meu paciente dentista dr. Rodrigo Mazo Orlandi tem meus cheques mensais... seria o “Leão”? Piada! Na merreca dos assalariados ele já garante sua fatia... já sei!! É o IPTU ! não paguei por causa dos prejuízos das enchentes (antecipei– me à prefeita de São Paulo, na isenção. Estou achando– me chique no úrtimo!) e posso ir para os quintos dos infernos, a pé, se eu o pagar! Na próxima vida, aí sim, terei um passado denegrido: “escritora foi recolhida à prisão, em cela individual, por negar- se a pagar IPTU, insistindo, teimosa e algemada (que trágico) que ao poder instituído cabe garantir incolumidade e segurança aos munícipes”.
Isto posto, fui ler o livro do sr. Sérgio Meibach, deixando de lado os preâmbulos de dedicatória, apresentação e agradecimentos. Fiz mal.
Fui lendo e fui lendo. O estranho é que, entre um texto e outro, alguma força fazia-me voltar à página 27. Um pequeno escrito de apenas duas páginas, sob o título “Alergia a Dinheiro”.
Lia, lia e...voltava à página 27. “A vida de um homem não consiste na abundância das coisas que possui”... “Um homem poderá reter vasta porção de dinheiro. Porém, o que fará dele?”
Na primeira leitura eu sabia o quê fazer. Nas outras leituras...não tanto.
“Poderá exercer extensa autoridade. Entretanto, como se comportará dentro dela?”
Aí eu juro que não é comigo! É lá com dr. Newton Lima, prefeito de S. Carlos; é lá com Manuel Samartim, futuro e novamente prefeito de N.Odessa; é lá com a Marta Suplicy, de S. Paulo; é lá com Paulo R. Silva, de Mogi Mirim; é lá com Jair Padovani, de Hortolândia; (sabia que em Hortolândia vai haver um posto de GNV? Gás natural veicular, que representa 70% de economia em relação à gasolina? É a segunda cidade a fazer isso na RMC – região metropolitana de Campinas – esta já os tem.); é lá com a decadente clã dos Braga que dominou Porto Ferreira nos últimos 30 anos...
– Um minuto! Por que está nomeando toda essa gente?
– É fruto da época da globalização. Cada um faz o que pode e, enquanto isso, tento convencer-me que o trecho citado nada tem a ver comigo. Volto às citações do sr. Sérgio:
“Não procures amontoar levianamente o que deténs por empréstimo. Mobiliza, com critério, os recursos depositados em suas mãos; o Senhor não te identificará pelos tesouros que juntaste, mas pelo valor de tuas realizações e pelas obras que deixaste...”
Lendo e relendo as páginas 27 e 28, decidi esquecer meu imenso desejo em ganhar um milhão e partir para uma boa ação. Não sei como efetivar isso, mas meu emérito amigo, Agnaldo Luiz Vergara sabe. – Agnaldo, você receberá 150 livros meus. Troque-os por alimentos, em beneficência à Casa que você escolher!
Minha crise de consciência passou... pelo menos momentaneamente.
Fico pensando em como duas páginas mudam tudo! E quis contar isso ao escritor Sérgio.
– Não pode!!! – responde alguém do jornal com quem ele colaborava. Morreu!! Do coração.
Arrepiada e chorosa: senhor Sérgio, onde quer que estejas... obrigada!... recebi um dos teus últimos recados em corpo físico e me arrependo de não haver lido antes, no preâmbulo dos “Agradecimentos”, que tinhas 72 anos de idade e que antevias tua partida, por grave problema coronário. Que pertencias à Sociedade Espírita Obreiros do Bem e à União das Sociedades Espíritas de S.Carlos. Que enviavas um agradecimento especial à Folha por ceder a contracapa da primeira página à inserção dos ideais.
Arrepiada e chorosa: em meus sonhos, sr. Sérgio, mato a saudade de todos os queridos que já se foram. Eu os vejo risonhos e felizes... A me indicarem caminhos... e espero vir a conhece-lo desta forma, dentre as misteriosas Koisas do Além !!!

Nenhum comentário: