5 de outubro de 2009

Último agasalho

Postado por Agnaldo Vergara
Texto escrito em abril de 2005


Com tantas pessoas importantes falecendo, imaginei o que pudéssemos ter em comum com elas.
E, não sendo cara de pau, eis o que saiu:

Último agasalho

No berço de meu filho a alma que cresce

Balança...

Bendita madeira – que já morta –

Perfuma

Adorna

Acalenta

Exorta...

Doce morada de criança!

Dos anos de infância

Se inda existe uma lembrança antiga

Que em teu peito a imagem dobra

Esquenta

Enriquece... conforta...

É aquela árvore, talvez contorta

Que teu sonho

Risonho

Aninhou;

Um anseio às asas deu

E... à sombra daquela copa

Tão bela

Entristeceu!...

Na madeira de Chopin

A alma canta

Vibra nos ares.

Infunde aos séculos e ao vento

Dos deuses a sinfonia e a terra encanta

Da Polônia ao Olimpo atroz

Há tantos mares?

Em tantos altares, quanto há de Deus?

Quanto há de nós?

Quanto há do momento

Se em cada firmamento

De um nobre ato pobre

Ninguém se enriqueceu...?

Bendita madeira

Que já morta

Perfuma

Acalenta

Exorta...

Serás, talvez,

O COFRE ÚNICO

A quem meu corpo

Cansado

Alienado e triste,
...pertenceu...!

Nenhum comentário: