16 de outubro de 2009

Que maravilhoso lar!

Texto publicado em novembro de 2003

Então seguimos, de São Carlos, eu, minha professora de culinária, Angélica e Joana, assistente dela.
De carro lotado por salgadinhos e doces, felizes, “apeiamos” na prefeitura Municipal de Nova Odessa.
Tanto São Carlos como N.Odessa têm sua principal rua que homenageia dr. Carlos de Arruda Botelho. Laços históricos.
“Apeiadas”, procuramos a cozinha da Prefeitura e lá fomos nos arranjando.
Através da culinária, pretendíamos levar nossos queridos letos a reviverem momentos deliciosos de convivência com vovós, através de um simples salgadinho, de nome mais ou menos assim: spet räuss. Recheados por minúsculos cubos de toucinho defumado e de cebola. Tudo muito quentinho!.
Mas não foi possível! E estou, veementemente, solicitando e com urgência, a colocação de um forno ali!
Cozinha que é macha tem que ter forno, pôôôô!!
(Gostaria de saber se as cozinhas das Prefeituras de S.Carlos e de Sumaré... possuem fornos. Só pra saber).
Bem, seguindo o conselho de meu filho menor, Giulio: “Mãe, entre zero e dez... às vezes precisamos nos contentar com um... cinco!”
Aceito. Com reservas, porque o “spet räuss” era feito em fogão à lenha, no quintal. Aceito um “três”. Mesmo porque acho difícil nos dias de hoje, encontrar uma prefeitura que tenha um forno no quintal. Elas deveriam, isto sim, reverenciar direitinho um passado honroso.
E tudo foi servido frio... sem o sabor carinhoso da lembrança. Um desaforo!
Bem, pessoas bondosas, logo no início, foram chegando e se predispondo a ajudar, em tudo.
“Sim, sim, muito obrigada, vamos preparar as bandejas”... Mas, por favor conservemos a porta semi-aberta, porque o maestro Ralph Klavin vai “dar uma passada” com o magnífico coral e pretendo ouvir esta arte.
Enquanto preparávamos as bandejas, a casa foi se lotando e lotando. Maior número de cadeiras trazidas.
O que acontece aqui?! É o meu amigo Alcides Gonçalves Sobrinho que lança o livro: Acalanto. Lindo, como os outros dois. Parabéns!
E veio a festa toda! A Banda de Metais “Gunars Stiss”, vibrante, nos fez trabalhar em delicioso ritmo e acelerado!
Logo estava mais que pronto na cozinha. Vamos assistir? SIIIM! Fechem a porta.
E foi chegando aquela magia que transporta, via perfeita arte, a nós, simples mortais... às paragens magníficas da... divindade!!
Não vou falar os nomes dos artistas – os jornais farão isso - mas... devo registrar o que o sentimento (que só sente) e a razão (que só raciocina) que ambos reconhecem o quanto de estudo, o quanto de renúncia, o quanto de disciplina, o quanto de exercício metódico, os quantos, enfim, bem grandes de toda uma vida são necessários, para os procurados pela ARTE... a buscarem, conseguindo, a perfeição!!...
Enlevada muito, deliciada mesmo, desço à terra: é hora de voltar à cozinha. Sem barulho... vamos lá!...
Foi quando... no silêncio total de uma grande platéia, atenta – e entendida – um ruído, um ranger mesmo estraga a concentração pelo menos dos mais próximos... porque a porta da cozinha... rangia!!
A porta da cozinha rangia!!! E danificava um concerto único e não visto nem em televisões e nem em teatros... muito, muito usados por primatas e trogloditas espetáculos, via de regra. Graças a Deus, há exceções a confirmarem a regra.
E a porta continuou rangendo! Que tal uma gotinha de óleo?
Bem...”entre zero e dez... cinco serve!”
Serve nada!!
Foram nota dez os abraços trocados, os sorrisos e as palavras generosas sobre os salgadinhos... frios!!
Desconfio que o “merengue” salvou um pouco e só então pude, mais descontraída, aceitar, com menor culpa... a glória de pertencer a esse maravilhoso lar!!
Além dos veementes protestos às cozinhas de Prefeituras que não possuem forno (e impedem de reviver mornas lembranças) mas, em compensação, a porta range, acrescento um forte abraço a todos os artistas, em geral e, em particular, àqueles tão magníficos de minha terra primeira, que agasalha as raízes mais profundas do meu coração!

Um comentário:

Ivoninha disse...

Oi Daidy: Eu como vc sou uma inveterada ouvinte de música clássica, assim como de MPB, e canções românticas... Sim, a música tem o condãp par nos trans portar ao inefável, à Divindade mesmo! Que pena que os salgadinhos não puderam ser aquecidos... Mas, nota mil por vc estar sempre cultivando o amor pelos seus antepassados letos que legaram a vc o patimônio cultural e humanístico que vc tem! Meu beijo, Ivone... Ps Entre os "virtuoses" estava o Dr. Rolando Peterlevitz?