13 de outubro de 2009

O PADRE E A MARQUESA

Texto extraído do livro "Quatro bruxas no elevador" editora Scortecci 2002

O Bud à máquina:
Olha, leitor, eu nunca imaginei um dia escrever uma crônica pornográfica...
Jamais pairou por um décimo de segundo sequer, em minha mente sadia e pura, o vil pensamento de botar no papel palavras de incentivo ao prazer carnal... palavras de lascívia... nunca mesmo!
Era um padre, interessante aquele.
Desses que dormem em tábua dura.
Não se pode dizer que fosse entrado em anos, contudo, um indefinível encanto enigmático, misterioso mesmo, afastava sua imagem do rol dos jovens e a colocava na privilegiada posição de sábio novo!
Enfim, muito interessante de se ver... e de se ouvir.
Foi aí que tudo aconteceu.
Ele – de imediato – apaixonou-se pela figura linda.
Fina, discreta, era o tipo que lembrava o requinte da clássica beleza nos salões de outrora.
Ela estava junto à uma varanda, um tanto alheia ao movimento circundante.
Ele aproximou-se.
Ela deixou-se ficar.
Irresistivelmente atraído, aproximou-se mais...
Ela deixou-se ficar...
Seria necessário aqui um José de Alencar, um Olavo Bilac, um Visconde de Taunay, para fotografar com os ardores do romantismo, o irrefreável amor à primeira vista. Um deles saberia descrever a cena, mesclada do afã, incrivelmente antigo à decisão e liberdade, incrivelmente modernas!
Ele aproximou-se mais e tocou-lhe os contornos harmoniosos e macios...
Ela deixou-se ficar.
– Bud, então você pensa que vai dar uma de certos escritores, que buscam vender livros à custa de exacerbar instintos...NO MEU LIVRO NÃO!!
– EU??!! Como você pode...
– Por acaso pensa que vai colocar uma pornografia, de lesa-religião no meu livro, quando, juramentou, no começo da crônica nuca incentivar o prazer carnal, a lascívia...e agora...tem a coragem de dizer que o padre deitou-se sobre a marquesa?!! Seu indecente!!
– Indecente é a sua cabeça, sua mente! o meu padre apenas cansou-se de dormir em tábua dura e largou o corpo sobre a cadeira antiga, longa, almofadada, do século XVIII, que está na varanda do museu...!
– A... marquesa?!
– A marquesa.
– Bem, você poderia, ter dito que... o padre deitou sobre a marquesa e...não que o padre deitou... hum... ã...
– ...Sobre a marquesa!

Um comentário:

Ivoninha disse...

Oi Daidy: O fio condutor habilmente tecido por sua imaginação, prende o leitor até o fim... Pensamos todos a mesma coisa e nos surpreendemos com o final! Amei... Bjs Ivone