29 de setembro de 2009

“O Brasil é a pátria de chuteiras!” E dos chutados!

Postado por Agnaldo Vergara
Texto escrito em outubro de 2005

Assim que veio à luz o mensalão do apito, com apitante e laranjas a comporem a nova-velha máfia da corrupção... senti que o brasileiro havia recebido, na alma, um tiro fatal!... Porque o brasileiro ama futebol! Vive por ele! Morre por ele! Nossos craques levam o nome “Brasil” a todos os recantos do mundo!! Como superiores!... Enquanto que alguns de nossos políticos eleitos... só nos trazem vergonha!!
100 por cento dos brasileiros acreditam no futebol. É uma quase filosofia de vida.
10 por cento dos brasileiros... apenas... acreditam nos... políticos!!
E o mundo todo, que assiste às CPIs e... aos jogos de nossos craques, saberá aplaudir a objetividade, a rapidez e a tomada de iniciativas, como prender os corruptos, anular-lhes os atos, refazer os jogos, com a devolução do prejuízo. Nas próximas três quartas feiras... os portões estarão abertos!!
Isso é seriedade!! que... muitos alguns políticos poderiam aprender como lição.
No futebol... não há imunidade parlamentar. Leva cartão quem errou! É expulso quem engana em proveito escuso!
Sabe, querido leitor, foi pensando nesses temas todos que eu gostaria de exaltar o nome do sr. Luiz Weiter, presidente do Supremo Tribunal de Justiça Desportiva. E levar um elogio ao coração brasileiro torcedor, reproduzindo o genial texto a mim enviado pelo amigo Agnaldo Vergara, a quem agradeço.

(*) FUTEBOL DE RUA (de Luís Fernando Veríssimo).

Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. Mas existe um tipo de futebol ainda mais rudimentar que a pelada. É o futebol de rua. Perto dele qualquer pelada é luxo e qualquer terreno baldio é o Maracanã em jogo noturno. Se você é homem, brasileiro e criado em cidade, sabe do que estou falando. Futebol de rua é tão humilde que chama a pelada de senhora.

Não sei se alguém, algum dia, por farra ou nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam mais ou menos assim:

DA BOLA – A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até bola de futebol serve. No desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a lancheira de seu irmão menor, que sairá correndo para se queixar em casa. No caso de se usar uma pedra, lata ou outro objeto contundente, recomenda-se jogar de sapatos. De preferência os novos, do colégio. Quem jogar descalço deve cuidar para chutar sempre com aquela unha do dedão que estava precisando ser aparada mesmo. Também é permitido o uso de frutas ou legumes em vez de bola, recomenda-se nesses casos a laranja, a maçã, o chuchu e a pêra. Desaconselha-se o uso de tomates, melancias e claro, ovos. O abacaxi pode ser usado, mas aí ninguém vai querer ficar no gol.

DAS TRAVES – As traves podem ser feitas com, literalmente, o que estiver à mão. Tijolos, paralelepípedos, camisas enroladas, os livros da escola, a lancheira de seu irmão menor e até mesmo o seu irmão menor, apesar dos seus protestos. Quando o jogo é importante, recomenda-se o uso de latas de lixo. Cheias, para agüentarem o impacto. A distância regulamentar entre uma trave e outra dependerá de discussão prévia entre os jogadores.

DO CAMPO – O campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e rua, calçada, rua e calçada do outro lado e – nos clássicos – o quarteirão inteiro. O mais comum é jogar só no meio da rua.

DA DURAÇÃO DO JOGO – Até a mãe chamar ou escurecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos. Até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.

DA FORMAÇÃO DOS TIMES – O número de jogadores em cada equipe varía, de 1 a 70 para cada lado. Algumas convenções devem ser respeitadas. Ruim vai para o gol. Perneta joga na ponta, a esquerda ou a direita dependendo da perna que falta. Quem usa óculos é meia-armador, para evitar os choques. Gordo é zagueiro.

DO JUIZ – Não tem juiz.

DAS INTERRUPÇÕES – No futebol de rua, a partida só pode ser paralisada numa dessas eventualidades:

a) Se a bola for para debaixo de um carro parado e ninguém conseguir tira-la. Mande seu irmão menor.
b) Se a bola entrar por uma janela. Neste caso os jogadores devem esperar não mais de 10 minutos pela devolução voluntária da bola. Se isto não ocorrer, os jogadores devem designar voluntários para bater na porta da casa ou apartamento e solicitar a devolução, primeiro com bons modos e depois com ameaças de depredação. Se o apartamento for de militar reformado com cachorro, deve-se providenciar outra bola. Se a janela atravessada pela bola estiver com o vidro fechado na ocasião, os dois times devem reunir-se rapidamente para deliberar o que a fazer. A alguns quarteirões de distância.
c) Quando passarem pela calçada:
1) Pessoas idosas ou com defeitos físicos;
2)Senhoras grávidas ou com crianças de colo;
3) Aquele mulherão do 701 que nunca usa sutiã.
(Se o jogo estiver empatado em 20 a 20 e quase no fim, esta regra pode ser ignorada e se alguém estiver no caminho do time atacante, azar. Ninguém mandou invadir o campo.)
4) Quando passarem veículos pesados pela rua. De ônibus para cima. Bicicletas e Volkswagen, por exemplo podem ser chutados junto com a bola e se entrar é gol.

DAS SUBSTITUIÇÕES – Só serão permitidas substituições:

a) No caso de um jogador ser carregado para casa pela orelha para fazer a lição;
b) Em caso de atropelamento.

DO INTERVALO PARA DESCANSO – Você deve estar brincando.

DA TÁTICA – Joga-se o futebol de rua mais ou menos como o Futebol de Verdade, mas com algumas importantes variações. O goleiro só é intocável dentro de sua casa, para onde fugiu gritando por socorro. É permitido entrar na área adversária tabelando com uma Kombi. Se a bola dobrar a esquina é escanteio.

DAS PENALIDADES – A única falta prevista nas regras do futebol de rua é atirar um adversário dentro do bueiro. É considerada atitude antiesportiva e punida com tiro indireto.

DA JUSTIÇA DESPORTIVA – Os casos de litígio serão resolvidos no tapa...”

(*) - Texto extraído do livro “Para Gostar de Ler” vol. 7 editora Ática.

Graças a Deus que, neste país, a maioria dos brasileiros tem juízo em confiar no grupo certo, o do futebol. O mesmo futebol que continuará a levar a honra e a glória de nossa honrada e gloriosa nação e, talvez, até recolher um pouco... da vergonha que alguns políticos desta nação esparramaram pelo mundo.

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