24 de setembro de 2009

" QUASE MORTE... VIDA..."
De súbito acordara e desta vez sabia que seria definitivo. Percorrera por tanto tempo caminhos e trilhas fantásticas, visitara lugares inacessíveis e inesperados. Ao cabo destas andanças pôde ainda encontrar pessoas muito queridas vivendo,amando e trabalhando em outros planos, onde a Luz é mais visível, brilhante e assim sobrepuja a escuridão!
Olhava agora em volta de si e notava a expressão aturdida da equipe médica;como ela havia conseguido sair do estado de coma que perdurara por longos e ininterruptos quinze anos?
Tentou em vão balbuciar algumas palavras, no entanto, os doutores a impediram e mais adiante deixaram-na novamente sozinha imersa em seus pensamentos. Sentada ao leito, Teresa percebeu um estranho ruído e em seguida deduziu que estavam mexendo na fechadura da porta de seu quarto.
Pouco depois a figura bizarra de uma "enfermeira" assomou em seu dormitório. Teresa reconheceu prontamente a mulher corpulenta, alta,loura com quem travara inúmeras lutas ainda inconsciente!
Maria era uma criatura de espírito frio e descrente, com a alma conturbada pela crueldade e ambição e por esta razão jamais conseguira enxergar além dos aspectos fenomênicos. Inúmeras vezes tentara desligar os aparelhos que mantinham Teresa viva, contudo uma força estranha e invisível impedia que o covarde ato se consumasse!
O que havia de fato naquele quarto de hospital? Um corpo de mulher que jazia inerte há muitos anos, sem apresentar qualquer manifestação de vida aparente, animado apenas artificialmente. Mas, ao contrário de que todos imaginavam o espírito de Teresa se conservara incólume e defendia de forma perfeita o corpo carnal que lhe servia de abrigo; e que um dia despertaria e retomaria sua missão apenas suspensa por algum tempo.
Consciente, agora Teresa temeu por seu destino, pois Maria obstinada em seu propósito criminoso caminhava pé ante pé em direção ao leito levando em suas mãos o instrumento de seu cogitado e por vezes tentado delito: um pesado travesseiro encontrado no quarto ao lado.
Mas, como que do nada, uma ventania implacável quebrou a vidraça, atingindo de chofre a pretensa enfermeira em suas mãos! Assustada, a mulher abandonou o cenário de seu "homicídio tentado" quase correndo e no mesmo instante Teresa avistou vários amigos espirituais sorrindo para ela!
Eis que a porta se abre novamente e desta vez a paciente reconhece a outra enfermeira que por tantos anos dispensara um cuidado protetor e vigilante. Um sorriso terno desenhou-se nos lábios da doente e com carinho ela proferiu estas palavras:
_ Como vai, Roseli? Não se cansou de cuidar de mim por todos estes anos?
A moça estupefata, sentou-se na cadeira mais próxima da cama e com a voz entrecortada de emoção conseguiu ainda dizer:
_ Como sabe meu nome D. Teresa? Quando comecei a cuidar da senhora, já estava em processo de inconsciência!
_ Apenas dormia, Roseli. A inconsciência era parcial assim como a morte também o é! Durante este tempo realizei viagens insólitas, visitei muitas moradas. Em várias delas a alegria imperava, já em outras o ódio dominava. "Há muitas moradas na Casa do Senhor; é preciso saber olhar e senti-las..."
_ Sabe, Roseli estou muito disposta e sinto-me completamente hígida mentalmente. Por favor, chame-me o tabelião, pois necessito muito falar com ele.
Em poucos dias o tabelião chegara acompanhado por duas testemunhas e assim Teresa pôde deixar consignadas em testamento público suas disposições de última vontade. Beneficiaria entidades de caridade, a enfermeira Roseli, mas deserdaria um de seus fihos mandante que era das várias tentativas de homicídio de que fora vítima, enquanto estava em coma.
Durante o resto de vida que lhe sobrara ajudou a muitas pessoas,perdoou a seu filho, ao revogar aquele testamento e um ano após ter acordado espetacularmente, dormiu o sono que para muitos traduz a finitude da vida.
Encontrou os pais, as irmãs, os amigos todos vivenciando uma nova etapa de suas existências em um recanto aprazível com mata verdejante e com muitas aves voando no céu. De longe vislumbrou o planeta Terra e vestida de de verde acompanhada por seus companheiros sentiu que uma nova e grandiosa missão esperava por ela.
Muito tempo depois muitas pessoas estavam reunidas em uma sala inebriadas por uma música muito suave e bela. Sentadas à mesa estavam muitos " médiuns" entre eles a enfermeira Roseli. Já em transe,pode entrar em contacto com Teresa. Roseli assim expressava as palavras do espírito " Boa tarde meus irmãos, eu superei a barreira da morte, pois esta é uma verdadeira ilusão, pois quando desencarnamos renascemos em outro lugar"! A reencarnação é condição imprescindível para evolução humana" !" Pensem nisto,e sigam os exemplos de candidez e caridade de JESUS"!
Saindo do estado de insconsciência, Roseli vislumbrou uma luz resplandecente tomando conta de todo recinto. Na ocasião atestou que a luminosidade não vinha tão somente das falanges espirituais que ali se encontravam, mas também da energia dos presentes que estavam tomados por pensamentos límpidos e benfazejos. Entendeu, ela naquele momento a precariedade da matéria e que a Espiritualidade é Eterna, Grandiosa e Transformadora!


* Nota da Recantista: Dedico este conto a memória de dois maravilhosos seres humanos e médiuns: Margarida Taranto e Murillo Mattos Faria e às amigas espiritualistas Analu, Andrea Rici Peixoto, e D.Orquídea, e a família espiritualista do " Recanto das Letras"
São Paulo,25 de julho de 2009.

Ivone Maria R Garcia
Publicado no Recanto das Letras em 25/07/2009
Código do texto: T1719061


Um comentário:

Ivoninha disse...

Oi Daidy: Muito obrigada pela pstagem deste meu conto... Esta é uma manifestação literária que não se prende à racionalidade estéril, mas se funda no que transcende... Sou católica, mas acredito , piamente na vida após a morte! Este conto foi baseado em estórias que ouvi de amigas espiritualistas, relatos estes que me impressionaram vivamente! Bjs Ivone