10 de agosto de 2009

Conhece-te a ti mesmo

Postado por Agnaldo Vergara
(Especial para pais, ideal para professores, indispensável para alunos)
(Publicado na Internet em 20 de dezembro de 2003)

Se voltarmos ao IV século antes de Cristo, veremos estas palavras: “Conhece-te a ti mesmo”, escritas em ouro no Oráculo de Delphos na Grécia, civilização brilhante e florescente, berços de filósofos, berço de democracia, terra que legou ao patrimônio universal as maiores glórias da Reflexão, as grandes diretrizes do Pensamento, as irrefutáveis razões da Lógica!
Os professores daquela época eram chamados Mestres, os alunos, Discípulos e as escolas eram as praças públicas (ágoras), os jardins, a sombra de uma árvore.
Era contrário à moral receber vencimentos para ensinar. Talvez venha daí a tradição a tradição de o professor ganhar sempre tão pouco. Os governos disso se aproveitam para manter o povo ignorante.
Era interessante a moral grega. Roubar ou praticar atos indevidos era perfeitamente aceitável, desde que bem escondidos, desde que inteligentemente disfarçados. E isso ainda continua. Basta lembrar de que no guarda-roupa fica o amante escondido, quando o marido chega fora de hora.
A respeito da moral grega, conta-se que um menino grego roubou uma paca e, ainda no quintal alheio, viu-se ameaçado de ser descoberto pelo dono da paca. Então, o pequeno colocou o animal dentro da camisa e, completamente imóvel, esperou passar a ameaça. Enquanto isso, a paca ficou com fome, de modo que foi comento o que havia de mais próximo: a barriga do menino, que continuou quieto, sem dizer um ai!
Um herói! Voltando ao título: Conhece-te a ti mesmo e voltando ao século antes de Cristo. Sócrates...
– O do futebol o Magrão?
– O da Grécia. Sócrates deve ter vivido nessa época, filho de Sofrônico, escultor estatutário e de Fenáreta, parteira.
– Por que você disse “deve ter vivido?” – Não há, Bud, provas substanciais de sua passagem por esse nosso delicioso e ameno planeta. As notícias que temos de Sócrates nos chegam de duas fontes: Platão e Xenofonte.
Platão, discípulo de Sócrates é, talvez, a Inteligência mais brilhante que a humanidade produziu. Em um de seus livros “Diálogos” narra as mundialmente famosas “conversas” entre o grande Mestre e seus discípulos. Os entendidos afirmam que Platão teria sido capaz de inventar o personagem Sócrates e ser ele próprio o autor da estupenda profundidade do pensamento socrático. Platão é fenomenal e basta dizer que sobre a sua filosofia se assenta nada menos que a Igreja Católica Apostólica Romana.
Se Platão inventou Sócrates, Sócrates seria um mito. Porém, a outra fonte dos pensamentos socráticos é Xenofonte, uma espécie de taquígrafo da época, que registrou magnificamente os diálogos do Mestre, na obra: “Os memoráveis Feitos e Ditos (de Sócrates). E registrou com tamanho brilhantismo, que é unânime a opinião”. De que ele, Xenofonte, não teria capacidade para criar semelhante obra dialética. Enquanto Plantão era brilhante, Xenofonte era militar. Então Sócrates teria existido e cairia o mito.
Sócrates era uma espécie de hippie da época; calçava chinelos e andava barbudo, não se importando nada em 'parecer bem': externamente. Sempre bem humorado, Sócrates dizia que, até os vintes anos seguiu a profissão do pai: escultor, e depois a da mãe: parteira.
Maiêutica -em grego é a arte de partejar e o grande, mestre dedicou sua vida a partejar idéias em seus interlocutores. Maiêutica é o nome que se dá ao seu eficaz método de ensino e "conhece-te a ti mesmo" é a base de toda a sua filosofia de educador. Para ele, todo conheci- mento está, em potencial, no espírito de cada um. Há que tirar o conhecimento de Já. Há que tirá-lo de dentro, nada se aprende de fora para dentro, que seja perfeito, porque nossos sentidos são limitados. (De fato, ainda hoje há quem jure que o sol nasce de um lado e se movimenta).
Para o outro lado, atribuindo-lhe dinâmica inexistente; nossos ouvidos só conseguem ouvir uma pequena parte dos ruídos que existem; nem captamos, por exemplo, o som que os morcegos emitem ou qualquer outro que ultrapasse 16 mil vibrações por segundo. (nossos sentidos são limitados). O conhecimento, as notícias, as informações que nos chegam através dos sentidos Sócrates chama de opinião são noções imperfeitas, passíveis de aperfeiçoamento e, portanto, mutáveis. À medida que a pessoa, pela auto-educação, facilitada pelo professor – que deveria conhecer, no mínimo, os processos de aprendizagem – vai fazendo nascer de seu espírito os conteúdos de que está prenhe, as opiniões vão caminhando, de aperfeiçoamento em aperfeiçoamento, até que chegam ao estágio de idéias, até que venham à luz as idéias. As idéias para Sócrates são perfeitas, imutáveis, eternas. Para ele, a opinião é o mais baixo grau do conhecimento. Para ele não existe, pois, melhoria do indivíduo, se o conhecimento vier pronto, elaborado, mastigado, solucionado, transmitido, para o aluno digerir. Ou filho. Nada se melhora sem elaboração do intelecto de quem aprende. Ninguém ensina nada! Seu método começava com a chamada Ironia, em que ele, por perguntas sábias, fazia a pessoa reconhecer que o conceito emitido estava errado.
Depois, com novas e sábias perguntas não lineares, levará o interlocutor a pensar e tirar de dentro as idéias sobre o assunto. De pergunta em pergunta, o pensamento correto surgia. Com esse método ele conseguiu que um escravo analfabeto demonstrasse um teorema matemático! Sócrates afirmava também que o homem que sabe, é bom. Que o homem faz práticas errôneas porque só tem opinião sobre aquilo e, opinião é o mais primário grau do conhecimento. O homem que só tem opinião – sobre a Justiça, por exemplo – pratica a injustiça e pensa que está certo. Está baseado em padrão imperfeito. Somente quando se aperfeiçoar e seu conhecimento sobre Justiça chegar ao nível de idéias, é que ele será justo. Para Sócrates, conhecer é agir. O sábio é bom. E, para ser sábio, não há que se transformar num depositário de informações. Não há que ter apenas “notícias” das coisas há que se chegar à idéia sobre ela.
A Educação pensou que ensinar era acumular informações de fora para dentro. E errou.
E vai demorar um século para consertar... se e somente se, a Filosofia, a leitura dos clássicos voltar, já! Se não, vai demorar muito mais!
Essa história de ensino concreto, de audiovisuais só serve para o início, porque é através dos sentidos que ele começa a ter opinião. Começa ai. Mas não pode parar- como parou! Há que subir, aos abstratos, à Reflexão, à ética, à lógica.
Estamos cheios de informações! E cheios de conceitos errados! Estamos nos violentando! E estamos infelizes, impacientes, neuróticos e descombussolados. Nosso espírito está cheio, e nós vazios.
– Teria sido um plano, Bud? E bem bolado! Veja, o pedagogo da atualidade, o de mais ibope, é Jean Piaget. Em seu livro 'Para onde vai a Educação'; à página 18, ele reza... "o recurso aos métodos ativos, conferindo-se especial relevo à pesquisa espontânea da criança ou do adolescente e exigindo-se que toda a verdade a ser adquirida seja reinventada pelo aluno, ou pelo menos, reconstruí da e não somente transmitida..."
– Percebeu, Bud, nosso velho e novíssimo Sócrates aí?
– Percebi que estão pensando que estão descobrindo, quando, na verdade, nada de novo, substancialmente, existe. Aliás, piorou, na essência, embora tenha melhorado na técnica, nos processos de experimentação das ciências. No ensino, o que se inventa são apenas alguns processos que são chamados de “métodos”. É um conhecimento epidérmico, despregado de séria fundamentação filosófica. Pudera que Piaget pergunta: “Para onde vai a Educação?” Para o brejo, como já foi, haja vista que o homem retornou à barbárie, bem refinada, por sinal, agravada por muita informação, pouca formação e quase nenhuma ética.
– Isso mesmo! E os pais que nos estão lendo, não esperem muito da Educação, pelo menos nos próximos 100 anos. Se ama o filho, nem espere pela ação das escolas, nem dos governos. Invistam nos filhos!! Nem sempre as escolas sabem... nem sempre os governos querem... Os filhos são os únicos que podem e querem aprender! Livros, desde o berço! Já ser´tarde se esperar quando ele aprender a ler. Livros, mesmo que façam casinha, torres, caminhõezinhos com eles...
E não exija nada em troca. Não há cobrança!
O resto é por conta da fantástica mente do bebê!
Você vai ficar...muito surpreso!

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