28 de agosto de 2009

O Charny da Daidy

Postado por Agnaldo Vergara
Texto publicado na Internet em dezembro de 2003


Já consigo, sem tremores de indignação, triler, tetraler, pentaler, hexaler, etc... o texto do Charny, enviado por um grande amigo!
Olhem, meus amigos, é um tétrico texto! Imagine o livro todo! Puro masoquismo de quem o ler! Fala de maldades antigas, fala dos campos de concentração, fala dos campos de extermínio, do holocausto... das vidas de casais que, não podendo mais viver juntos, separam-se, mas, a vida, má como ela sempre foi, é e será, faz o casal saber que nada encontrou de bom, depois da separação. Tudo de ruim para eles...! Eu não queria saber de nada disso, justo agora que o Brasil constrói sua credibilidade lá fora! Justo agora que temos gente de confiança governando conosco os nossos destinos... justo agora que temos o magnífico ribeirão-pretano Palloci a considerar normais as desavençazinhas no PT (com grande frustração dos repórteres televisivos que se deliciam em procurar chifres em cabeça de cachorro... e... quanto pior, melhor!)... Justo agora que ao ver o Palloci, ainda com o pé esquerdo contundido, a explicar, com sua língua “plesa”, que a equipe econômica não vai ceder a pressões políticas... que o caminho estudado, re-estudado, traçado, definido... com muita serenidade e calma, está se desenvolvendo segundo uma pauta de bom senso... que confia num histórico destino brasileiro em vencer crises pelo trabalho árduo, produtividade e exportação (sabia que nossos frangos, nossa excelente carne de boi, sempre sem a vaca louca, nossa soja, nossa laranja, nossos abacaxis, nossas acerolas - não confundir com cerola, é outra coisa! – Estão cada vez mais apreciados mundo a fora?
Bem, com todo esse otimismo, voltei à sétima leitura do “pequeno texto” do autor Charny, pessimista, cru e... verdadeiro!! Os “miseráveis” de Victor Hugo são felizes perto disto!!
Foi quando percebi... que me escondia sob uma camada hipócrita que cobre a verdade e a fantasia de otimismo, de encanto e de poesia... reconheço a crueza da Verdade escabrosa e demoníaca que nos cerca a todos. O enfado, a rotina e o sem sabor de uma vida monótona arruínam, quase todos, os fiapos de esperança, e a nós, já quase desnudos e dependurados num abismo negro... quem sabe qual é a força que leva nossos olhos a se voltarem... para os céus!... Em busca de; com necessidade de pertencer a; ... com o pouco que resta do azul de nossa alma... a pedir socorro a quem o possa ouvir!
Charny retira-me do solitário vôo da ave que, sem ninho, nega-se a voltar à terra , preferindo planar, à procura, não do pôr do sol, à moda do Pequeno Príncipe de Exupery...mas à colheita de cada sensação que todo dia traz... ao espantar as trevas da noite, ao espantar a escuridão e ao admirar a gota de orvalho da grama, que decompõe a luz em todas as cores do arco-íris...
O texto Charny reporta-me a um passado distante. Sem data, sem local. Talvez no próprio dia do meu nascimento!
E tudo já estava lá! Gravado no meu espírito prenhe, como o afirma o filósofo Sócrates. Tudo o que Charny explica...
Só que, no mesmo dia em que nasci... eu JUREI SER FELIZ!!
Tudo o que há de ruím no mundo, as desgraças, a traição, a inveja, a cobiça, as frustrações e os desenganos; o pessimismo, o masoquismo, a não-caridade, as ofensas, o abandono, os fracassos, a vingança a negligência e a INJUSTIÇA... levei tudo isso para perto do mar. Bem onde a salgada água, numa onda amena beija a praia.
Ali escrevi tudo, na areia, o que há de mal no mundo.
Depois, voltei-me à procura das lindas rochas, onde crescem mariscos e ostras e se banham, alimentando-se com o milagre do mar...
Na rocha dura, escrevi, a duras penas, tudo o que pude saber das dádivas da vida: a amizade, o amor, a mão dada, a mão estendida, o calor terno de um beijo amigo, o fecundo abraço que acalenta... o amor sincero numa pobre cabana, a segurança da fidelidade, a inocência da criança...o perfume da natureza, a história de dias felizes... a consciência de que somos... todos irmãos!!
Quando acabei, de mãos já muito cansadas, procurei um local mais alto, de onde pudesse vislumbrar a paisagem...
Foi quando aprendi a maior lição da minha vida, para... continuar FELIZ!!
O beijo das ondas havia apagado tudo o que de mal eu havia escrito, dos homens e do mundo, na areia!
A página estava... em branco, para novas escritas...
Na rocha dura, as coisas do bem se eternizavam...
Nunca mais desisti de ser poetisa!

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