14 de agosto de 2009

A FACA ITALIANA

Postado por Agnaldo Vergara
Meus amigos, eu tenho que postar esse texto da Daidy que foi publicado na Internet em dezembro de 2003 porque ele é impagável, eu sou testemunha ocular do estrago, eu ví o guarda-roupa e reafiei a faca.


Meu doce consorte tem ido à Itália algumas vezes, a negócio, mas... sucumbindo às tentações, acaba comprando objetos cuja aquisição não estava programada e, a rigor, nem sequer era necessária.
Numa destas viagens, trouxe ele algumas lindas bolsas, salames, “funghi” secos, licor Amaretto de Saronno, meio quilo de pó de café (de tal qualidade que nenhum brasileiro jamais sonhou em tomar aqui!), purê de tomates etc.
Trouxe também uma grande faca!
Extra "qualitá". Marca Bufalo. Na verdade, fabricada na Alemanha. Cabo de madeira escura; bem acabada; três rebites dourados.
Uma jóia de arma, digo, de instrumento cortante culinário.
Ah! A lamina vem protegida, de cabo a rabo, por uma capa dura, preta, todinha estampada com o logotipo do fabricante.
Um verdadeiro luxo!
O estranho é que esse bem nascido objeto passou a receber um cuidado, um mimo, uma paparicação que, se me contassem, eu não acreditaria.
Ficar molhada, no escorredor de pratos, junto com as outras mortais talheres? Nem por sonho! A santa faca não!!
..."Não a deixe ficar molhada!."Exclama logo meu doce consorte .
...“Coloque a proteção.”
...“Não aponte lápis com ela!”... Recomenda-me ele.
Olha, leitor, com perdão da palavra, a faca virou um... verdadeiro cocozinho...! Haja!!
O... estrelato dela começou já na alfândega italiana quando foi seu talento descoberto por um detector de metais.
– O que o sr. vai fazer com uma faca deste tamanho? Perguntou-lhe o agente funerário, digo alfandegário.
– Matar minha mulher! Respondeu. Por uma dessas ironias da vida, não teve crédito quando, num arroubo de consciência, falou a verdade. E remediou, escondendo a falha: “Enquanto a oportunidade não aparece, vou cortando este salame aqui”.
Quando se muda de casa, normalmente há alguns probleminhas de... colocar móveis robustos em cômodos não tão robustos nas suas dimensões. É um caso sério. A minha “diferença” sempre foi um guarda-roupa de marfim, grande, imenso, destinado a durar 500 anos, pesado e – eis o problema – ele está acostumado a tomar o maior espaço possível do cômodo!
Desta feita, quando mudamos para Santos, o meu quarto foi a vítima em ter que abrigar o... dito cujo, de estimação, presente dos sogros.
Experimenta aqui, experimenta ali... aqui não cabe, lá também... não!
Pudera! É... grande como... um guarda-roupa.
Finalmente. O lugar onde menor dano ao espaço útil ele causaria era encostado à parede que faz limite entre o quarto e o terraço.
Só que, com ele ali... a porta para o terraço não se fecha por completo. Ele tem no alto uma borda saliente – ele é todo saliente!!
A porta chega até ali e empaca, a... dez centímetros do batente. por onde entra um vento violento em dias de tempestade além de um vento constante, encanado, e cortante, próprio dos andares altos.
De tanto que reclamei e insisti, magnanimamente permitiu-me o doce consorte que se providenciasse a "poda" do final da borda superior da tão veneranda e vetusta peça.
Ia-se mutilar esse respeitável e verdadeiro vagão de marfim, mas, entre as alternativas que apresentei! "Ou eu ou ele", o pobre homem teve que preferir-me, embora eu jamais tenha conseguido avaliar a sinceridade da escolha.
Bem, assim que ele viajou para o trabalho, resolvi eu mesma – e confesso, com certo prazer – efetuar a "poda" daquela desafiante e autoritária peça.
Era apenas uma grande lasca a ser tirada.
Só!...
Primeiro, usei uma faquinha de frutas, com cabo de plástico.
A peça resistiu por completo!
Usei a faca serrada de pão.
Consegui apenas duas tirinhas finas de madeira e nada mais
Empunhei uma faca um pouco mais possante.
E depois outra. E mais outra, de modo que, assim, fui obrigada a experimentar todas as facas de casa, incluindo as pensionistas e aposentadas por tempo de serviço.
Mas... o trabalho não progredia!
Voltei à cozinha e abri a gaveta.
Lá estava ela, possante e poderosa, em completo estado de repouso, desafiando-me mesmo...!
Afinal, era a... protegida do meu marido! Entre o ciúme e o despeito, empunhei-a!
Desencapei-a!
... E... visse leitor, como o trabalho progrediu!
Em menos de uma hora e com apenas duas bolhas na mão, eis que a grande saliência no chão... jazia, em mil lasquinhas! Finalmente, a porta fechava-se a contento. E eu, contente, estava livre do vento!
Lavei a faca, direitinho. Sequei-a. Encapei-a. Guardei-a.
Meu doce consorte, por minha sorte, não sabe de nada.
Céus...!
Olhe aqui, caro leitor você é minha testemunha. Se eu morrer de morte violenta, por exemplo... a facadas! chame a Polícia, se ainda existir ela, e conte-lhe tudo. O crime foi premeditado!

Um comentário:

Ivoninha disse...

Oi Daidy; Seu senso de humor é notável,suas crônicas espantam qualquer baixo astral! Parabéns!!