16 de agosto de 2009

Só por desaforo!

Postado por Agnaldo Vergara
Texto publicado na Internet em janeiro de 2004

O ser humano é incrível! Ele acredita em balelas e em mentiras das propagandas tendenciosas e em promessas de alguns políticos... já profissionais (graças a Deus que a maioria deles, agora, é boa) e não acredita nas muitas verdades que eu conto. É certo que, às vezes, eu aumento um ponto... mas é por conta da imaginação que voa...!
Esta verdade aqui aconteceu, tal e qual, em Campinas. Morávamos na Chácara Primavera, Taquaral, com nossos dois abençoados filhos e mais três famintos e fiéis cães. Depois, mudamo-nos para o Botafogo, numa linda casa (até hoje tenho saudades dela, tão cheia de armários por todos os cantos onde... onde cabiam armários), porque era vizinha do local onde eu trabalhava.
Tudo ia às mil maravilhas, quando algo começou a... não ser maravilha. Já na primeira madrugada, pelas quatro e meia, o meu telefone – com número novo – grita forte, atrapalhando o silêncio:
– Trrruuiiiimm...!!
– (Quem será que morreu??!) Alôôôuu!
– É aí que tem... a melhor carne?
– Ora “seu”... a melhor carne é da sra sua...
– Calma DONA!!
– Madona é a sra mãe da sra. sua mãe, viu... seu malcriado!
– Calma... sra!... eu só quero comprar carne...
– E isso aqui tem cara de açougue?!
– Claro que não! Açougue é aqui; aí é um pequeno frigorífico!
– Jamais! Aqui é minha linda “residance”.
– Que azar! É abri ontem o açougue, venho de outra cidade, só com esse número de telefone fornecedor; não conheço nada...
– Bem... (coitado!) vou dar-lhe uma ajuda. Passe o pedido e o número do seu telefone. O sr. receberá as carnes.
– 50 quilos de carne de primeira e 150 de carne de segunda; o meu número é: 333 44444.
– Interessante... boa sorte! (arre... agora vou é fazer um delicioso café, na minha casa nova!).
Apenas me sentei para uma gloriosa xícara... e lá estava o telefone gritando novamente.
– Alôôô!
– Anote o pedido da carne.
– Ô... seu malcriado! Nem bom dia? O sr. sabe com quem está falando?!
– Com a empregada do frigorífico, pô!!
– Não e não! Sou a dona desse telefone e escritora.
– Minha santa Edwirges, protetora dos endividados! Porque é assim que eu vou ficar... porque serei demitido... porque o pedido já era para ontem...!
– (Coitado!) Bem, olhe o sr. já é o segundo. Como vou passar pedido do “outro”, farei o seu também . Dê o telefone e os quilinhos de carne.
– Muito, muito, muito obrigado mesmo, gentil sra. Meu telefone é 444 33333.
– Número interessante! O sr. receberá, por esta vez, as melhores carnes, assegurei, depois de anotar o pedido.
O 102 informou-me o novo número do tal frigorífico de mau gosto “A melhor carne”. De mau gosto também achei o nome do cujo proprietário “Zélio”. Não gostei. Lembrou-me a tal da ministra Zélia, (que namorava o tal de Cabral ), de quem eu não gostava também... mas, deixe pra lá! Fato é que expliquei ao Zélio que o antigo número dele era meu agora e o pessoal estava fazendo encomendas a mim. “É que as guias de remessas, notas fiscais e embalagens... tudo ainda tem aquele número” disse-me ele, pedindo-me um pouco de paciência, que faria ampla divulgação para corrigir a mudança.
Só que... o tempo foi passando... passando os pedidos eram inúmeros. Às quintas e sextas-feiras, choviam eles de todos os cantos: açougues, supermercados, sítios, condomínios, chácaras, fazendas, clubes... era uma churrascada sem fim...! E... o Zélio, acomodado, tinha mais eu de funcionária e... sem pagamento! Desaforo!
Cansei-me, pô!!! E... só por desaforo, anotei todos os pedidos, concedendo um especial desconto de 25% nas carnes, em comemoração ao aniversário – por mim criado – do frigorífico.
Essa montanha de carnes deveria ser entregue na sexta à tarde e, no mais tardar, no sábado, até às 9h30.
Não passei pedido nenhum.
Na sexta-feira, lá pelas três da tarde, liguei a secretária: “infelizmente, não podemos atende-lo neste momento... porque... neste fim de semana, o churrasco é meu!! Só por desaforo!”

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